quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Próprio Amor


Atendeu ao telefone e ouviu aquela voz tão familiar e que, por tantos dias – tempos atrás - esperara ansiosamente pelas palavras que ecoavam em toda a sua alma e faziam flutuar nos sentimentos multicoloridos que só aos apaixonados é concedido sentir. O diálogo que se seguiu pareceu, ao ser rememorado, uma paródia tardia de um drama que se quer disfarçar em comédia:

- Alô!
- Oi.
- Reconheceu minha voz?
- Reconheci (e como não reconhecer de imediato aquele que foi um desejo constante nos últimos dez anos e que se queria em afeto e carinho, em demonstrações de importância que nunca vieram?).
- E então, como está? Nunca mais me ligou. Esqueceu de mim?

Naquele momento um filme completo, em frações de segundo, passou-lhe à mente: todos os momentos de espera que se tornaram vazios, a tão esperada importância que se queria ter e que jamais se concretizara, todas as frustrações de uma paixão e dedicação nunca correspondidas...

- Que é isso! É que ando com muitas ocupações...
- Mas, nem um tempinho para me ligar? Tenho pensado muito em você por esses dias.

E um sorriso se desenhou nos lábios (um daqueles, que esboçamos com uma tentativa de disfarce quando não queremos ser vistos), como recompensa pelo sucesso alcançado com o seu plano: dar um gelo naquele que fora seu amor por tanto tempo, distanciando-se e dificultando a comunicação, deixando o círculo de amigos em comum e evitando os mesmos ambientes, para que sua falta fosse sentida.

- Ah! Eu também me lembro de você.

O plano dera certo. Mas, inversamente ao que se planejou de início, o tempo em que se dispôs a passar distante do seu objeto de desejo deixou claro que era possível, sim, viver sem ele: o amor deixara de existir com a mesma leveza com a qual havia se instalado.

- Então, se lembra de mim, me dá notícias de vez em quando. Lembra de mim de verdade. Estou com saudades.

- Claro. Te ligo qualquer hora dessas. Vou desligar para terminar umas tarefas aqui. Tchau.

E, desligando o telefone, sorriu imensamente feliz pela constatação de que, agora, pensava mais em si.




* Imagem capturada da página noitesroubadas.blogspot.com através do Google Imagens 


4 comentários:

  1. Adoooooooooooorei! quem nunca se sentiu assim! Lavei minha alma so de ler isso!

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  2. Muito bom! Espero que seu blog seja um sucesso e vou voltar! "POR ONDE IR" Gostei do titulo. um forte abraço amigo!

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  3. Maravilha Nilton!!! Uma situação tão comum e tão bem descrita. Adorei!

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  4. Poxa... Nilton Senhorinho e suas inúmeras habilidades! Perfeito!!! Parabéns!!! Vou acompanhar!!! Bjs

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