Atendeu ao telefone e ouviu aquela voz tão familiar e que,
por tantos dias – tempos atrás - esperara ansiosamente pelas palavras que
ecoavam em toda a sua alma e faziam flutuar nos sentimentos multicoloridos que
só aos apaixonados é concedido sentir. O diálogo que se seguiu pareceu, ao ser rememorado,
uma paródia tardia de um drama que se quer disfarçar em comédia:
- Alô!
- Oi.
- Reconheceu minha voz?
- Reconheci (e como não reconhecer de imediato aquele que
foi um desejo constante nos últimos dez anos e que se queria em afeto e
carinho, em demonstrações de importância que nunca vieram?).
- E então, como está? Nunca mais me ligou. Esqueceu de mim?
Naquele momento um filme completo, em frações de segundo,
passou-lhe à mente: todos os momentos de espera que se tornaram vazios, a tão
esperada importância que se queria ter e que jamais se concretizara, todas as
frustrações de uma paixão e dedicação nunca correspondidas...
- Que é isso! É que ando com muitas ocupações...
- Mas, nem um tempinho para me ligar? Tenho pensado muito em
você por esses dias.
E um sorriso se desenhou nos lábios (um daqueles, que
esboçamos com uma tentativa de disfarce quando não queremos ser vistos), como
recompensa pelo sucesso alcançado com o seu plano: dar um gelo naquele que fora
seu amor por tanto tempo, distanciando-se e dificultando a comunicação,
deixando o círculo de amigos em comum e evitando os mesmos ambientes, para que
sua falta fosse sentida.
- Ah! Eu também me lembro de você.
O plano dera certo. Mas, inversamente ao que se planejou de
início, o tempo em que se dispôs a passar distante do seu objeto de desejo
deixou claro que era possível, sim, viver sem ele: o amor deixara de existir
com a mesma leveza com a qual havia se instalado.
- Então, se lembra de mim, me dá notícias de vez em quando. Lembra
de mim de verdade. Estou com saudades.
- Claro. Te ligo qualquer hora dessas. Vou desligar para
terminar umas tarefas aqui. Tchau.
E, desligando o telefone, sorriu imensamente feliz pela
constatação de que, agora, pensava mais em si.
* Imagem capturada da página noitesroubadas.blogspot.com através do Google Imagens
Adoooooooooooorei! quem nunca se sentiu assim! Lavei minha alma so de ler isso!
ResponderExcluirMuito bom! Espero que seu blog seja um sucesso e vou voltar! "POR ONDE IR" Gostei do titulo. um forte abraço amigo!
ResponderExcluirMaravilha Nilton!!! Uma situação tão comum e tão bem descrita. Adorei!
ResponderExcluirPoxa... Nilton Senhorinho e suas inúmeras habilidades! Perfeito!!! Parabéns!!! Vou acompanhar!!! Bjs
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