domingo, 20 de novembro de 2016

OS RADICALISMOS NOSSOS DE CADA DIA

Os radicalismos estão se infiltrando nas mais singelas coisas da nossa vida.

Eu crio cachorros ha vários anos e, nesse tempo, percebendo que estes têm medo de fogos de artifício, procurei meios de fazê-los não temer.

Tenho irmãos e sobrinhos que nasceram em datas próximas aos festejos juninos e nenhum deles teve problemas com tiros de bombas e foguetões. Muito ao contrário: todos nós brincamos muito com a 'magia' dos fogos (até entendo que hoje o bom senso faça afastar as crianças das possíveis queimaduras), e aprendemos a não 'ter medo' de barulhos.

De uns tempos para cá, entretanto, tenho visto manifestações radicais contra a queima de fogos por conta de crianças e animais e vejo nisso um radicalismo exacerbado dentro de uma discussão que envolve o individualismo, a falta de adaptação aos costumes locais (no que aparece a intenção de adaptar a comunidade às suas necessidades), cultura, etc.

Precisamos dialogar mais sobre tudo aquilo que nos aflige de alguma maneira antes de determinarmos que as nossas necessidades devem ditar as ações sociais externas e partir para o constrangimento público daqueles que seguem antigos e arraigados costumes, como a queima de fogos (e isso serve para muitas outras manifestações).

Em um outro contexto, Eric Robsbawm disse que "quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem".

Tirando os cães (que já existiam antes que salitre, enxofre e carvão fossem misturadas na medida certa) e até hoje estão aí para provar que a raça não se extinguiu mesmo tendo medo do barulho, não sei que tipo de 'ser-humano-não-me-toque' estão sendo criados. O que mais me apreende, no entanto, não é acreditar que as crianças dessa época de intolerância extrema morrerão assustadas pelo fogos. Temo, sim, em vê-las crescendo numa crença de que o seu bem-estar se eleva acima de todas as vontades comunitárias.