No último 5 de julho o Brasil lembrou a passagem dos 96 anos
da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, na qual jovens tenentes desafiaram o
governo da República Velha e enfrentaram, destemidamente, 3000 soldados numa
batalha desigual, na qual os jovens lutavam pelo fim do voto de cabresto, por
reformas educacionais e mudanças no sistema eleitoral, entre outras bandeiras.
Entre os jovens tenentes estava Antonio de Siqueira Campos,
que foi baleado no confronto, mas sobreviveu para participar, ainda, da famosa
Coluna Prestes, que percorreu o interior do Brasil denunciando os desmandos e
injustiças sociais promovidas pelo governo federal.
Como reconhecimento por sua contribuição na luta pelo fim
das desigualdades e a favor de uma democracia mais participativa, Siqueira Campos
recebeu homenagens por todos os recantos deste imenso país, emprestando seu
nome desde a uma estação do metrô no Rio de Janeiro, ou um parque na capital
paulista (o Trianon), até uma praça em Belém do Pará, sem deixar de passar em
milhares de cidades brasileiras, que o agraciaram dando seu nome a importantes
ruas. Assim também foi em Belo Jardim, na década de 30 do século passado,
quando pessoas que compreendiam a grandeza dos atos daquele homem, também o
homenagearam dando o seu nome àquela que viria a ser a principal rua da nossa
cidade nas décadas seguintes.
E quem de nós, que vivemos o fervor dos anos 80, 90 e início
deste século, não tem suas lembranças para contar da velha ‘Siqueira’?
Pois bem! Eis que um outro brasileiro ilustre, falecido em
2011, desbancou o tenente Siqueira Campos em Belo Jardim e passou a ocupar o
nome da rua que até então homenageava o jovem herói. Inicialmente, podemos não
dar muita atenção a este fato, mas é necessário que se levantem questionamentos
ao ato da troca do nome.
Nossa Lei Orgânica determina que não se pode alterar nomes
de lugares ou de prédios públicos sem consulta popular. Nossos legisladores
interpretam a palavra “lugar” como sendo apenas vilas, distritos e povoados, já
que mudaram, nos últimos 15 anos, os nomes da Praça Desembargador João Paes, da
Rua João Pessoa, do Palácio Municipal e da Rua Siqueira Campos e do Bairro
Tancredo Neves, entre outros (os últimos 3 entre os anos 2009 e 2011), sem
ouvir a população, seus eleitores.
Não obstante os novos agraciados tenham merecimento para
ganhar homenagens, devemos preservar os nomes anteriores não apenas em memória
dos próprios, como também em respeito aos que, décadas atrás, batizaram nossas
ruas e prédios públicos. As vontades anteriores também devem ser preservadas.
Dito isto, é necessário que sejam apresentados projetos de
lei que disciplinem firmemente o tema, para que não aconteça, daqui a alguns
anos, que os homenageados de hoje também venham a ser apagados pelo desejo
daqueles que, no futuro, terão o poder de legislar, executar, apagando nossas
memórias, nossa história e, importantíssimo, negando às gerações futuras o
direito de saber quem fomos nós, e quem esteve e atuou aqui antes de nós. E
antes deles.
E devemos, num futuro breve, também, discutir se devemos
retornar o nome da avenida central da cidade para Siqueira Campos, ou se
devemos manter a vontade de pequenos grupos frente ao imenso abismo de merecimento entre os 2 personagens homenageados com a mesma rua. E isso será feito. No futuro próximo.
Nilton Senhorinho
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