terça-feira, 12 de julho de 2016

BELO JARDIM E OS 18 DO FORTE

No último 5 de julho o Brasil lembrou a passagem dos 96 anos da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, na qual jovens tenentes desafiaram o governo da República Velha e enfrentaram, destemidamente, 3000 soldados numa batalha desigual, na qual os jovens lutavam pelo fim do voto de cabresto, por reformas educacionais e mudanças no sistema eleitoral, entre outras bandeiras.


Entre os jovens tenentes estava Antonio de Siqueira Campos, que foi baleado no confronto, mas sobreviveu para participar, ainda, da famosa Coluna Prestes, que percorreu o interior do Brasil denunciando os desmandos e injustiças sociais promovidas pelo governo federal.

Como reconhecimento por sua contribuição na luta pelo fim das desigualdades e a favor de uma democracia mais participativa, Siqueira Campos recebeu homenagens por todos os recantos deste imenso país, emprestando seu nome desde a uma estação do metrô no Rio de Janeiro, ou um parque na capital paulista (o Trianon), até uma praça em Belém do Pará, sem deixar de passar em milhares de cidades brasileiras, que o agraciaram dando seu nome a importantes ruas. Assim também foi em Belo Jardim, na década de 30 do século passado, quando pessoas que compreendiam a grandeza dos atos daquele homem, também o homenagearam dando o seu nome àquela que viria a ser a principal rua da nossa cidade nas décadas seguintes.

E quem de nós, que vivemos o fervor dos anos 80, 90 e início deste século, não tem suas lembranças para contar da velha ‘Siqueira’?

Pois bem! Eis que um outro brasileiro ilustre, falecido em 2011, desbancou o tenente Siqueira Campos em Belo Jardim e passou a ocupar o nome da rua que até então homenageava o jovem herói. Inicialmente, podemos não dar muita atenção a este fato, mas é necessário que se levantem questionamentos ao ato da troca do nome.

Nossa Lei Orgânica determina que não se pode alterar nomes de lugares ou de prédios públicos sem consulta popular. Nossos legisladores interpretam a palavra “lugar” como sendo apenas vilas, distritos e povoados, já que mudaram, nos últimos 15 anos, os nomes da Praça Desembargador João Paes, da Rua João Pessoa, do Palácio Municipal e da Rua Siqueira Campos e do Bairro Tancredo Neves, entre outros (os últimos 3 entre os anos 2009 e 2011), sem ouvir a população, seus eleitores.

Não obstante os novos agraciados tenham merecimento para ganhar homenagens, devemos preservar os nomes anteriores não apenas em memória dos próprios, como também em respeito aos que, décadas atrás, batizaram nossas ruas e prédios públicos. As vontades anteriores também devem ser preservadas.

Dito isto, é necessário que sejam apresentados projetos de lei que disciplinem firmemente o tema, para que não aconteça, daqui a alguns anos, que os homenageados de hoje também venham a ser apagados pelo desejo daqueles que, no futuro, terão o poder de legislar, executar, apagando nossas memórias, nossa história e, importantíssimo, negando às gerações futuras o direito de saber quem fomos nós, e quem esteve e atuou aqui antes de nós. E antes deles.


E devemos, num futuro breve, também, discutir se devemos retornar o nome da avenida central da cidade para Siqueira Campos, ou se devemos manter a vontade de pequenos grupos frente ao imenso abismo de merecimento entre os 2 personagens homenageados com a mesma rua. E isso será feito. No futuro próximo.

Nilton Senhorinho

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