sábado, 25 de maio de 2013

A CAMINHAR




Fui, mais uma vez, ao porão da minha memória, onde estão depositados os registros da minha caminhada. Diferente das vezes anteriores, quando apenas me detinha à porta para observar o imenso depósito, passando rapidamente os olhos sobre o seu interior, adentrei e passei a revirar cada registro, como que para encontrar algum traço que tenha passado despercebido ao longo da minha estrada.

A viagem à qual me lancei, naquele instante, não poderia ter sido mais encantadora: de repente, estive outra vez no colo da minha avó Quitéria (o colo da minha infância), revi os antigos vizinhos das minhas casas, gente que há muito se foi para um outro plano; lá estava repetindo as competições de pipa, pião, ximbra, barra-bandeira e tantas que fizeram em mim uma criança feliz e cheia de histórias; voltei ao quintal onde a grande matrona da vizinhança, em seu fogão de lenha, misturava os ingredientes mágicos para fazer o puxa-puxa que maravilhava meus olhos enquanto tomavam a forma de animais, laços e diversos objetos para o deleite da meninada que, esfuziante, corria rua a fora após o presente dos doces.

Emocionado, ouvi as conversas e risadas das brincadeiras e papos com os amigos de muito cedo (ainda quando as amizades são apenas brincadeiras puras) e os de um pouco depois que, ainda muito jovens, também se adiantaram na viajem e, muito atento, observei o sorriso tímido de Nêgo, a vivacidade de Charles, e tantos outros.

Fui levado aos muitos momentos de aprendizagem nos quais aqueles que me precederam se dedicaram; abracei meu pai em um momento de afeto que não posso repetir e vi-o entre sues irmãos e tios num dos momentos festivos de outrora. Quanta recordação boa.

Poderia ficar mais 36 anos revendo 36 de memórias que tenho. Acredito que os registros que me vieram, quando caminho à virada do que se diz ‘metade da vida’, retornaram para que eu lembre quem sou, do que foi feito, por quem, e com quem; que nada foi em vão e que todos os que passaram em minha vida tiveram sua contribuição; e que, vez ou outra, se faz necessário um mergulho em nossas memórias, em nossas raízes, para que não nos desviemos de quem somos de verdade.

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